PAFSUB
O Programa Arqueológico Franco-Brasileiro do Sul do Brasil (PAFSUB) é uma rede internacional de pesquisa sobre a ocupação humana primitiva no sul do Brasil e áreas adjacentes. Ele existe desde 2013 e recebe financiamento do Ministério das Relações Exteriores da França como uma missão arqueológica, sob a orientação da Comissão Consultiva para Pesquisa Arqueológica no Exterior.
Seus principais objetivos são definir sequências arqueológicas regionais com base na escavação de sítios bem datados, descrever a produção técnica do Pleistoceno Final ao Holoceno Recente (de 12.000 a 500 anos antes do presente) e sua integração em uma escala extra-regional, abordar os padrões de assentamento da região e suas implicações em uma escala continental e desenvolver nosso conhecimento sobre como as sociedades se adaptaram aos ambientes ocupados e seus modos de subsistência.
Atualmente, o programa está desenvolvendo o projeto de pesquisa Povoamentos pré-históricos do Alto Vale do Rio Uruguai (POPARU), na parte ocidental do planalto do sul do Brasil. Além da subvenção do Ministério das Relações Exteriores da França, esse projeto conta com o apoio material e financeiro de várias instituições brasileiras e francesas, sendo as duas principais a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ) e o Muséum National d'Histoire Naturelle da França (MNHN).
Objetivos
Sequências arqueológicas
Há uma grande quantidade de dados arqueológicos sobre os períodos antigos do sul do Brasil, mas ainda há pouca contextualização cronológica das mesmas. Para estudar as sequências arqueológicas, ou seja, a sucessão ao longo do tempo das manifestações culturais das sociedades humanas em um determinado local, o trabalho de campo do PAFSUB envolve escavações em larga escala e em grande profundidade, cobrindo toda a espessura do preenchimento sedimentar dos sítios, com meticuloso controle estratigráfico.
Isso possibilita a definição de conjuntos de evidências (artefatos e estruturas) cronológica e culturalmente coerentes. O uso das geociências (sedimentologia, micromorfologia, geomorfologia) e da geoarqueologia é fundamental, assim como a implementação de uma abordagem geocronológica usando diferentes métodos de datação.
Processos de povoamento
Pouco se sabe sobre o início da colonização da costa atlântica central da América do Sul. Os dados mais antigos disponíveis até o momento no sul do Brasil datam de cerca de 12000 anos antes do presente. Eles são mais recentes do que as ocupações iniciais conhecidas ao norte, no Brasil central, e ao sul, no Uruguai. Em termos culturais, as características da produção técnica mostram uma ligação maior com o Cone Sul (Uruguai e Argentina) do que com o Brasil central. Isso sugere um processo de colonização que se move do sul para o norte, uma direção raramente enfatizada em relação às primeiras ocupações americanas. Parece que o vale do Rio da Prata (rios Paraguai, Paraná e Uruguai) desempenhou um papel decisivo na dispersão inicial de grupos humanos na região.
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A pesquisa realizada como parte do PAFSUB visa contribuir para uma melhor compreensão desses primeiros assentamentos a partir de uma perspectiva continental, mas também dos sucessivos movimentos populacionais durante o Holoceno, particularmente a chegada de grupos associados à tradição arqueológica Tupiguarani durante o último milênio.
No sul do Brasil, como ocorre frequentemente no continente americano, a diversidade tecnocultural das sociedades pré-históricas baseia-se principalmente nas características das pontas de projétil de pedra lascada. A presença de diferentes tipos de pontas durante um longo período de tempo levou à sugestão de que as populações que não produziam cerâmica (chamadas indiscriminadamente de "caçadores-coletores") eram culturalmente homogêneas de 12000 a 500 anos antes do presente. Na realidade, levar em conta todas as armas, ferramentas e resíduos de lascamento de pedra revela especificidades locais e variações no comportamento técnico ao longo do tempo.
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Por meio de estudos tecnológicos e traceológicos, o PAFSUB identifica os processos de produção e uso de objetos de pedra lascada para cada sítio arqueológico analisado. Está desenvolvendo essa abordagem para além dos artefatos líticos (integrando técnicas de cerâmica em particular) e está buscando integrar os resultados assim obtidos, colocando-os em diálogo com dados conhecidos em uma escala extra-regional.
Produções
técnicas
Como em outros lugares, os ambientes do sul do Brasil passaram por profundas mudanças desde o final do Pleistoceno. Entre as mudanças mais notáveis estão o desaparecimento dos maiores mamíferos (a "megafauna") e o desenvolvimento gradual da floresta subtropical (floresta de araucária) no planalto meridional do Brasil, substituindo paisagens mais abertas.
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A pesquisa do PAFSUB visa contribuir para a reconstrução dos paleoambientes regionais e destacar as adaptações das sociedades a esses ambientes variados e mutáveis, especialmente via o estudo dos meios de subsistência.